É incrível como a Zâmbia, teimosamente, sempre cruza o nosso caminho! E, mais do que isso, como a história dos encontros entre as duas selecções no Torneio da COSAFA nos é confrangedoramente adversa.
Os zambianos são dominadores no Torneio da COSAFA, possuem uma formação temível, porém, nas últimas edições a sua hegemonia vem sendo posta em causa. O exemplo mais eloquente desta realidade pode ser ilustrado pela terrivelmente sofrida vitória por uma bola sem resposta diante da Namíbia, no pretérito domingo, para os quartos-de-final. O seu tento somente aconteceu a escassos minutos do final da contenda, naquilo que terá sido uma tremenda injustiça para os namibianos, que se bateram por um desfecho favorável.
Mas em redor dos “Chipolopolo” criou-se uma auréola de grandeza – o que até é indesmentível – de tal forma que qualquer adversário procura sempre evitar o caminho destes. Só que, para triste sina dos moçambicanos, a Zâmbia tem sido o maior óbice, desde os primórdios desta competição futebolística regional, outrora designada por Taça Castle, criando em nós a sensação de um fantasma que dificilmente pode ser espantado. De um obstáculo irremovível. De uma equipa diante da qual “a priori” estamos afastados. Enfim, de uma selecção endeusada de tal modo que, para a esmagadora maioria dos adeptos, a esperança de chegar à final está à nascença condenada ao fracasso.
MAS SERÁ ISSO MESMO?
Eis uma questão pertinente que urge colocar. É verdade que não devemos olvidar o passado, que, neste caso concreto, é claramente favorável à Zâmbia, no entanto, fazendo uma avaliação objectiva dos dois times, em função daquilo que nos deram a observar nas partidas dos quartos-de-final, as diferenças competitivas e de estrutura futebolística são inexistentes.
A abordagem do jogo, o andamento, a atitude e, acima de tudo, o saber fazer com pragmatismo, onde normalmente saíamos desfavorecidos, hoje não se acham diferenças, daí perspectivar-se um confronto bastante equilibrado, envolvente e de desfecho imprevisível.
Apesar de Mart Nooij não contar com o “esquadrão de morte”, por isso estar no Zimbabwe com uma selecção constituída por jogadores do Moçambola, não resta a menor dúvida que o fio de jogo que é apanágio dos “Mambas” está lá. A identidade da equipa é indiscutível. A raça e a competência profissional são vincadas por todos os artistas de forma alegre, razão bastante para o triunfo (1-0) sobre o Malawi, com golo de Josimar, na sequência de um magnífico trabalho iniciado e concluído pelo próprio “canarinho”, com a excelente colaboração de Mexer, autor do “pique” que proporciona a Josimar começar o contra-ataque rápido, após um pontapé de canto malawiano, Danito Parruque, Jerry e Carlitos, o homem do passe magistral que acabaria sendo de morte.
É inegável que se sofreu a bom sofrer face à estratégia ofensiva montada pelos malawianos, na busca da igualdade, tendo nos valido a pena a grande tarde do guarda-redes Binó, mas também o evoluir dos “Mambas” foi suficiente para coarctar todo o deslumbre do adversário e permitir que o jogo seja discutido sem grandes desnivelamentos de abordagem.
Uma abordagem, por parte da nossa equipa, que se espera ainda mais dinâmica esta tarde, frente aos zambianos, e realmente se vingar a desfavorável história dos encontros entre os dois países no Torneio da COSAFA. Evidentemente que a ambição de chegar à final – a ser disputada no domingo, em Harare – faz parte dos objectivos de ambos, mas os pupilos de Mart Nooij, se conservarem o seu futebol prático, participado e a toda a largura do campo, poderão estar criadas as condições para a prossecução do seu desiderato, um dia depois de Moçambique e os moçambicanos terem vivido mais um dia histórico na edificação do seu castelo de democracia: a eleição do Presidente da República, dos deputados da Assembleia da República e, pela primeira vez, dos membros das assembleias provinciais.Caso o treinador não opte por alterações, por razões tácticas ou de força maior, os “Mambas” deverão apresentar o seguinte onze: Binó; Campira, Mexer, Fanuel e Mayunda; Carlitos, Danito Parruque, Momed Hagy e Josimar; Jerry e Hélder Pelembe.