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segunda-feira, 5 de abril de 2010
AFROTAÇAS - Costa do Sol,3-Al Amal,2: Tanta esmola desperdiçada
É DIFÍCIL compreender como é que uma equipa joga tanto, domina e no fim sai com uma lágrima no canto do olho. Já compreendo a razão de alguns dizerem que quando a esmola é gorda até o mendigo desconfia. O Costa do Sol teve tudo de bandeja para passar esta eliminatória, mas demonstrou uma crise gritante de ideias e imaginação. E o resultado foi o que se viu: está fora das Afrotaças.
João Chissano não inventou nada. Foi ao manual de futebol buscar uma tese segundo a qual temos que marcar um golo nos primeiros minutos que nos vai servir de “doping” para o resto do jogo. O Costa do Sol recebeu essa receita. Jogou em cima do adversário. Dominou-o e humilhou-o com um futebol requintado de todos condimentos, mas o futebol sem golos é como comida sem sal.
O primeiro quarto de hora foi de sufoco total, mas quando se joga tanto e não se marca fica-se com crise de ideias e foi o que aconteceu. A ansiedade era tão enorme que os “canarinhos” com o andar do tempo foram acometidos pelo desespero diante de uma equipa, diga-se sinceramente que de futebolistas não tem nada, senão um conjunto de matulões, que mal se posicionam em campo e pouca mobilidade têm.
Os falhanços na baliza contrária eram às toneladas. Até que Elísio, por ver que os seus colegas de ataque não marcavam, preferiu emitá-los mas para a sua baliza. Não foi ele quem marcou para os sudaneses, mas construiu a jogada do golo ao atrasar mal a bola para Antoninho, que na tentativa de salvar o barco acabou por desfeitear o desamparado Eltahir Mussa. O árbitro, mesmo que fosse moçambicano, dificilmente fecharia os olhos naquele lance, porque o guardião do Costa do Sol foi mesmo à queima, mas também é preciso dar mérito à manha do atacante, que se deixou cair como se tivesse sido atingido por um míssil.
O desespero apoderou-se dos “canarinhos”. Cá do lado de fora, nas bancadas, até parecia que se estava num velório. Era penalte. Antoninho posicionou-se entre os postes. Abderahman Mossa tomou balanço, rematou com algum efeito, mas denunciado. Antoninho esticou-se para a direita e com um punho travou o tiro. A bola ressaltou para a frente. A defensiva “canarinha” ficou a ver navios. O mesmo Abderahman Mossa, à segunda, mandou lá para dentro. Antoninho já não podia fazer mais. Há quem lhe pode culpar, mas para mim, pelo menos neste lance, fez o que lhe competia. Os “canarinhos” consentiram o golo e até ao intervalo andaram um pouco perdidos em campo.
SIMPLESMENTE ESPECTACULAR!
João Chissano apressou-se para os balneários quando o árbitro deu por terminado o primeiro tempo. Ficou à espera dos seus “pupilos” e de certeza que lhes puxou as orelhas. Deve ter andado aos berros até perder a voz, porque era inadmissível o que estava a acontecer: O Costa do Sol a dominar, a encostar os adversários às cordas e a sofrer quando menos se esperava.
A lição deve ter servido, porque no segundo tempo só deu à marrabenta! Logo no primeiro minuto, Tó que até então andava perdido, depois de um remate violento de Josimar devolvido pelo guarda-redes, na emenda, fez o que gosta de fazer: Marcar golos. Era o reavivar das esperanças que nunca desfaleceram. Galvanizados, os “canarinhos” pisaram mais no acelerador e voavam mais alto. Seis minutos volvidos, Inácio, na cobrança dum livre, enviou o esférico para o barulho. Tó, sempre irrequieto, estoirou. A bola ainda embateu no poste antes de “beijar” as redes. O Estádio “explodiu” de alegria.
Só que havia mais: o Costa do Sol estava mesmo imparável. Os sudaneses já estavam atordoados. Certamente que só lhes dava vontade de se enterrarem para não sofrerem mais.
Mas quem tem Tó, em dia sim, tem alguns golos contabilizados. E lá foi ele, aos 10 minutos, com um tiro de se lhe tirar o chapéu, colocar o Costa do Sol momentaneamente na eliminatória seguinte. Sinceramente, não há palavras que possam descrever esse momento de grande satisfação. Confesso que mesmo eu “pulei” e abracei o meu colega de profissão que estava ao lado. Quando dei por mim já não tinha o bloco de notas. Felizmente o rapaz que estava ao meu lado apanhou-o e entregou-me.
A eliminatória estava assegurada. Só que o técnico sudanês inteligentemente mexeu na equipa. Reforçou o ataque com mais colossos e mandou-os para o tudo ou nada. Foi feliz nesse aspecto, porque aos 19 minutos, o recém-entrado Abbas Seed, a aproveitar uma má defesa de Antoninho com os punhos para a frente, abateu o “canário” de vez. Já não havia como reagir. O resultado era pesado demais que já ninguém suportava. Mas mesmo assim, os moçambicanos não baixaram os braços, só que pecava em municiar o seu jogo pelo ar, onde os latagões levavam a melhor.
Foi um fim triste do Costa do Sol que tudo fez para passar à fase seguinte. Só que, mais uma vez, Deus não foi moçambicano. Paciência… fica para a próxima!
O árbitro do encontro esteve muito bem, principalmente no capítulo disciplinar, onde repreendeu peremptoriamente.
FICHA TÉCNICA
ÁRBITRO: Tabani Mnkanjo, auxiliado Bongani Gadzikwa e Tapfumanei Mutengwa, todos do Zimbabwe. QUARTO ÁRBITRO: Acácio Matsinhe.
COSTA DO SOL: Antoninho; João, Kito, Inácio e Dito; Elísio (Sanito), Payó, Ruben e Josimar; Perry (Vivaldo) e Tó.
AL AMAL: Mohamed Hussein; Abdelrahman Abdalla; Adam Adam; Abderahman Mossa (Iloe Malachy), Maysarh Hussin, Anwar Imail (Daoud Alhaded), Elthair Mussa, Abbas Saeed (Nazar Nassir), Magdi Zaid, Saleh Toto e Sanusi Aminu.
ACÇÂO DISCIPLINAR: “Amarelos” para Adam Adam, Abderahman Mossa, Daoud Alhaded e Abbas Saeed, todos do Al Amal; Antoninho, Kito e João, do Costa do Sol.
Gil Carvalho
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