O FENÓMENO Mambas já está a ser, efectivamente, um elemento catalisador da paixão dos moçambicanos em relação à sua Pátria e aglutinador de múltiplas almas desta terra espalhadas pelo mundo.
Em Tunis, contam-se com os dedos de uma mão os moçambicanos lá residentes. O Mambo, alto funcionário do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), é o expoente máximo da hospitalidade nata da nossa terra transportada para o Magrebe.
Sempre solícito e de braços abertos, a sua face só espelha diligência e permanente disposição de ajudar e até de servir de pronto-socorro, tal como sucedeu quando, sozinhos, Paíto e Simão desembarcaram no aeroporto da capital tunisina, enquanto os colegas ainda se encontravam em Tripoli. Alertado telefonicamente sobre o facto, imediatamente foi em auxílio dos dois jogadores.
Ao “kota” Mambo junta-se, na mesma instituição bancária continental, o Bilale, um jovem promissor na sua carreira. Mas, sedento das notícias da terra, de falar chope, de “curtir” o fervilhar de Maputo, encontrámos Moisés Zandamela. Jovem estudante em Tunis, desde que os seus compatriotas chegaram àquela cidade em nenhum momento os largou. Cicerone por excelência, Moisés acabou sendo o elo de ligação entre moçambicanos e tunisinos, tanto a nível institucional como formal.
A sua grande satisfação residia no facto de poder estar, tal como o faria se estivesse no Estádio da Machava, ao lado de gente da terra, rigorosamente vestido à “mamba” e a deliciar-se com os aventurados e maravilhosos pés de Dominguez.
Aliás, o extraordinário interesse nacional pela selecção foi vincado na Tunísia de uma forma transcendental. Dos Estados Unidos da América, da Inglaterra e da Alemanha, os filhos do vento, verdadeiros filhos desta terra moçambicana, não quiseram perder o grande ensejo de juntar o seu calor em redor dos Mambas, a sua voz ao coro dos poucos mas bons adeptos que se entrelaçam nesta jovem equipa que a cada jogo içam verticalmente a crista moçambicana.
ESTUDANTES PERSEVERANTES
Pena, no entanto, foi a odisseia por que passaram os estudantes moçambicanos na Argélia, embora o final tenha sido feliz. Estimados em cerca de 50, animaram-se com a presença dos Mambas no Magrebe e puseram-se em marcha rumo à vizinha Tunísia. Só que, chegados à fronteira, questões burocráticas relacionadas com o visto “tramaram-lhes” por completo.
A espera foi muito longa e, quando finalmente foi aceite a sua entrada no território tunisino, o tempo já era escasso para chegarem à hora do embate no Estádio 7 de Novembro, em Radés, tendo em conta a distância da fronteira para a cidade.
Apesar de tudo, os jovens estudantes não se coibiram em juntar-se aos seus compatriotas, ver de perto e conviver com as estrelas da selecção.
Porque a Federação Moçambicana de Futebol, num gesto digno de louvor, havia levado uma colecção de camisetes dos Mambas, precisamente destinadas àqueles estudantes, imaginem, senhoras e senhores, o que foi a noite de sábado e a manhã de domingo, na principal artéria de Tunis, denominada Avenida Habib Bourguiba, em homenagem ao primeiro presidente daquele país do norte de África: um movimento desusado de moçambicanos, com a onda vermelha em plano de destaque.
Mesmo com a derrota, o nosso país ficou vincado, por um lado, face à brilhante exibição da equipa no segundo tempo da contenda, e, por outro, devido à presença massiva de adeptos, facto não comum nos tunisinos. Aliás, segundo eles próprios diziam, quando a sua selecção jogar em Maputo, em Novembro, provavelmente nenhum tunisino estará na bancada, pois não faz parte da sua cultura acompanhar as equipas de futebol fora do país.
A própria selecção não consegue arrastar muita falange, razão para o facto de o estádio não ter registado a enchente que nós, moçambicanos, temíamos. Para eles, o “derby” entre Esperance de Tunis e o Club African é que efectivamente faz a diferença. Esse é o jogo, sim, que põe o “7 de Novembro” completamente lotado, acompanhado de uma terrível guerra de claques. Por isso, a ida dos adeptos dos Mambas deixou-os boquiabertos, admirados com esta nossa “loucura” em relação ao futebol.
Uma “loucura” que também arrastou para Tunis diplomatas moçambicanos em serviço no Egipto, casos de José Nhalungo, ex-presidente da Federação Moçambicana de Natação, e do Bila; na Argélia, do Fakirá, irmão do Izidine, o “dono da voz” na Rádio Moçambique; e na França, do Langa, que já ia trajado a preceito com as cores da selecção.
No sábado, em Nairobi, os filhos do vento, filhos desta terra, estarão lá em peso. Ávidos de ver jogarem os seus compatriotas. Prontos para oferecer o seu calor e gritar pelos nossos jogadores até à rouquidão. A partir do próprio Quénia, serão muitos os moçambicanos ao lado dos “Mambas”.
Mas também irão adeptos da Tanzânia, da Zâmbia, do Uganda, da Etiópia e de outros países daquela região, em mais uma clara demonstração de que a nossa selecção, hoje por hoje e por mérito próprio, é uma fonte aglutinadora das almas moçambicanas, quer estejam no país quer na diáspora.
OS AMIGOS DA AVENTURA
Quer faça chuva quer faça sol, eles sempre estão lá. Fiéis à sua moçambicanidade. Fiéis à equipa de todos nós. Para eles não importa se a selecção joga em Maputo ou na Namíbia. Na Tunísia ou no Quénia.Na África do Sul ou na Nigéria. Até na Mongólia, certamente que eles não se importariam. Pois, o que mais interessa é vincar o seu sangue “mamba” nas guelras. São os amigos da aventura. Aventura por uma causa sublime. A causa dos “Mambas”. Conhecemos alguns. Nossos contemporâneos e que fizeram furor no futebol de salão: o Cuca, o Mascarenhas, o Carlitos, entre outros, sempre bem dispostos, amigos de toda a gente e amigos do seu país.
Se não há excursão organizada, através de uma agência de viagem, eles juntam-se, pegam nas suas viaturas e partem para grandes aventuras pelo continente. Atravessar o deserto, como por exemplo na viagem para Namíbia. Eles adoram a aventura. Mas, sobretudo, adoram a sua selecção. No Estádio da Machava, têm lugares cativos. Destacados e a mobilizarem o público para o sempre necessário apoio aos Mambas.
Estiveram na Tunísia. Regressam a casa para recarregar as baterias. Partem agora para o Quénia. Para eles, os Mambas são a bandeira que nunca arriará. Os amigos da aventura são um grande exemplo. Mas também o são adeptos como o Xiba, um machangana orgulhoso de si, das suas vestes “sui generis”, simbolizando essa nossa querida selecção.
Alexandre Zandamela
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