sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Moçambique, 2-Malawi, 0: Avé São Dominguez!


TARDE deslumbrante, no vale do Infulene! Tarde de abraços e de uma exuberância que nos fez recuar uma dúzia de anos para aquele memorável triunfo sobre o Malawi e consequente qualificação para Burkina Faso.


Na ocasião, a tarde tinha sido de Tico-Tico, o actual capitão dos Mambas, que os malawianos jamais esquecerão. Ontem a história deste encontro amigável entre as duas selecções vizinhas foi escrita por um outro protagonista.


Depois de produzir um passe magistral para o toque oportuníssimo de Dário Monteiro, a abrir o marcador, Dominguez, naquele seu jeito de enguia e perspicácia quanto baste, foi buscar a sua arte e génio para um golo que realmente é apanágio das grandes estrelas, fechando com chave de ouro uma partida ganha com astúcia porduas bolas sem resposta. 

Evidentemente que não vamos embandeirar em arco, tendo em perspectiva os compromissos relativos às grandiosas campanhas de 2010, o primeiro dos quais a 29 de Março, no Estádio da Machava, diante da poderosa Nigéria. Entretanto, importa, em primeiro lugar, realçar o seguinte: o ensaio frente ao Malawi veio revelar que temos um conjunto perfeitamente sincronizado, troca de bola e desmarcações a contento e jogo ofensivo bem elaborado, todavia, a notar-se uma clara falta de instinto matador, isto é:

a) um Dário Monteiro mais acutilante e menos preocupado se o árbitro assinala ou não uma falta, se a sua posição é irregular ou não;

b) um Tico-Tico a tirar mais e melhor proveito da sua habilidade, para desse modo a prodigiosidade de Dominguez encontrar a devida sequência na zona do golo, para além dos chuveirinhos de Miro e Josimar, tal como foi patente no embate de ontem.

Isto porque, se considerarmos que a estreia de Binó na baliza foi felizarda, o sector defensivo voltou a ser igual a si próprio: Dário Khan, apesar de não ser um lateral que iminentemente evolui até à linha do fundo, a exemplo de Paíto (ausente por lesão), esteve bem; os centrais Mano e Fanuel sempre destemidos e óptima combinação; no lado esquerdo, Miro com o seu habitual sobe-e-desce, embora os seus passes não tenham sido fogosos.

Na zona nevrálgica, ao cintilar da estrela Dominguez juntou-se o tecnicismo e o brilho de Josimar; a extraordinária acção e maturidade revelada por Simão, um trinco bom no apoio aos colegas mais adiantados e excelente no auxílio à retaguarda, conferindo-a mais solidez; e a manha de Carlitos, pois, embora lento na execução de jogadas, o seu propósito visava estancar alguma vivacidade dos adversários.

RASGOS INDIVIDUAIS



Ambos os contendores esbanjaram muito tempo na procura da melhor estratégia para desbaratar o esquema táctico montado pelo oponente. Vai daí, fomos assistindo, praticamente durante a primeira meia hora, a uma partida caracterizada por defesas cerradas e pouca mobilidade dos atacantes, metidos num colete de forças. A Dário Monteiro, amiúdes vezes apanhado fora-de-jogo face à forma como os malawianos evoluíam na sua retaguarda, faltava alguma inteligência para, jogando à frente dos defesas, se desenvencilhar e chegar com perigo à baliza de Sanudi.

Era preciso vir buscar a bola cá atrás. Com os seus rasgos, Tico-Tico e Dominguez trabalhavam-na muito bem, porém, a penetração na área mostrava-se difícil. Ou melhor, quando assim acontecesse, o instinto matador a que nos referimos pura e simplesmente não existia, adiando-se constantemente a possibilidade de inauguração do marcador.

Também bem estruturado tacticamente, o Malawi dava primazia ao contra-ataque, na tentativa de tirar proveito da determinação de Joseph e Russel, com a técnica de Fisher a vir ao de cima. Porém, a defesa moçambicana não permitia veleidades, acabando por morrer facilmente as jogadas ofensivas malawianas. 

À passagem dos 30 minutos, o Estádio da Machava, finalmente, exultou de alegria. Lance bem desenhado pelos Mambas, com o esférico a vir de trás para frente, indo parar aos pés de Dominguez. Este, encostado ao lado esquerdo, faz um passe de mestre para um toque primeira de Dário Monteiro, a encher o pé, batendo sem hipóteses de defesa o keeper visitante.

O golo trouxe mais confiança à turma moçambicana, que acreditou que era possível dominar o adversário. A partir daqui tudo saía a contento para os pupilos de Mart Nooij. Jogadas bem combinadas, trocas de bola com precisão e desmarcações que causavam vertigens aos malawianos, pois a bola era enviada para o lado direito como também, logo a seguir, para o esquerdo, e vice-versa.

QUEBRA DE RITMO


Uma jogada bem ensaiada por Fisher, a meter o esférico para a zona do golo, bem correspondida com um toque primoroso de Russel, obriga Binó a um golpe de rins, cedendo um pontapé de canto. Prenúncio de um Malawi revigorado? Sim, começávamos a ter um Malawi diferente e a dar mostras de querer virar o rumo dos acontecimentos. Na verdade, os visitantes passaram a visitar com frequência a área contrária, obrigando o guarda-redes moçambicano a uma acção mais determinada.


Os Mambas entraram numa fase bastante confrangedora, mormente no jogo ofensivo. Lances bem elaborados rareavam e a quebra de ritmo era evidente. O seleccionador nacional fez uma série de substituições entraram, em etapas diferentes Nelinho, Maninho, Zé Luís e Mexer, mas eram os malawianos a oferecer mais qualidade no futebol atacante.

Mas, à beira do final da contenda, os casos mais relevantes da segunda parte: aos 89 minutos, Zé Luís corresponde muitíssimo bem, de cabeça, a um passe de Dominguez, obrigando Sanudi a uma defesa de recurso; para, aos 90, o menino-maravilha fazer das suas. Inicia a jogada a meio do meio campo, descaído para o lado esquerdo. Flecte para a linha do fundo, engana o primeiro adversário, finta o segundo, finta o terceiro e, quando o guarda-redes se preparava para diminuir o ângulo, já o esférico esticava as malhas.

Festa! Festa grande na Machava, com São Dominguez, uma vez mais, a mostrar que a sua arte é mesmo predestinada.

O árbitro suázi convidado a dirigir esta partida realizou um trabalho dentro dos padrões e teve uma boa coordenação com os seus assistentes. Os foras-de-jogo de Dário Monteiro existiram, de facto.

FICHA TÉCNICA

Árbitro: Mbongiseni Elliot Fakudze, da Suazilândia, auxiliado por Henrique Langa e Francisco Machel. Quarto árbitro: António Massango

MOÇAMBIQUE Binó; Dário Khan, Mano, Fanuel e Miro (Mexer); Simão, Carlitos (Nelinho), Dominguez e Josimar (Zé Luís); Tico-Tico e Dário Monteiro (Maninho)

MALAWI Sanudi; Ivis, Moses, Peter Nkonda e Clement; Hellinks, Chikondi (Chukuepo), Robert (James) e Fisher (Ngondo); Joseph (Peter Mwende) e Russel

Golos: 1-0, Dário Monteiro (31 m); 2-0, Dominguez (90 m).

Alexandre Zandamela

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