segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Nova Aliança da Maxixe quer voltar à ribalta


DEPOIS de várias iniciativas propaladas visando a reactivação do Clube Nova Aliança da Maxixe, que não ganharam nenhum efeito, uma grande mobilização de meios e recursos está em curso para trazer de volta aquele que foi um dos clubes históricos do país, fundado pelos pescadores de Chicuque, no longínquo ano de 1932.


Uma grande campanha de sensibilização decorre visando resgatar antigos sócios, simpatizantes e amantes do clube, bem como trazer novos, isto a nível da Maxixe e de outros pontos de Inhambane e além-fronteiras da província, particularmente na cidade de Maputo, para onde alguns dos fundadores do clube desertaram.


As acções com vista ao relançamento do Nova Aliança ganharam ímpeto a partir de 2005, um ano depois da assembleia-geral do clube, que elegeu Jacinto Abrão como presidente. Jacinto Abrão foi um dos jogadores do Nova Aliança que, após terminar a sua carreira futebolística, ocupou o cargo de secretário-geral, na altura em que Fernando Gomes era presidente e homem forte do clube.

O primeiro passo dado foi a elaboração dos estatutos para dotar o clube de personalidade jurídica, de modo a funcionar legalmente e poder, desse modo, realizar parcerias possíveis para avançar com os projectos que têm na manga, nomeadamente o relançamento da equipa de futebol de seniores, tendo como horizonte o Moçambola, para além da construção de um campo de raiz no espaço onde o Nova Aliança começou a jogar depois da sua fundação.

De salientar que o Nova Aliança da Maxixe teve os seus momentos áureos na década 80, quando representou Inhanbane no Campeonato Nacional de Futebol, onde ombreou com grandes equipas como Maxaquene, Desportivo, Ferroviário, Costa do Sol e Matchedje, todas de Maputo, Textáfrica, Têxtil do Púnguè e Ferroviário da Beira, entre outras.

Mas o seu momento histórico no Nacional foi quando se tornou vice-campeão em 1985, em que o Maxaquene conseguiu o primeiro título. Com este feito, o Nova Aliança atingia o pico da sua grandeza desde que ascendera à prova máxima, em 1983, na qual se manteve até 1989, período em que desfilaram outras equipas históricas como o Namutequeliua e Associação Desportiva de Pemba.

GUERRA ACABOU COM O MÍSTICO 

A queda do Nova Aliança da Maxixe, como de tantos outros clubes históricos, começou a desenhar-se no período da guerra dos 16 anos, começou quando a equipa de futebol, modalidade com a qual mais se identificou, ficou sem espaço para se movimentar e Fernando Gomes desertou para Maputo. As dificuldades tornaram-se enormes para a sobrevivência do clube, até que ficou riscado do mapa futebolístico do país. Terminada a guerra, houve várias iniciativas para a sua reactivação, mas que foram por água abaixo.

Porém, tudo demonstra que as coisas poderão ser diferentes desta vez, pois o grau de mobilização e de envolvimento das pessoas no processo visando a reactivação do clube tende a crescer e alguns passos já foram dados à busca de soluções. Os estatutos do clube estão prontos e serão submetidos à aprovação em breve. 

Paralelamente a isso, a nova direcção do clube trabalha para preencher os órgãos sociais de modo a ter uma estrutura forte à altura dos desafios que se perseguem, sobretudo a construção de um campo de raiz e outras infra-estruturas para albergar as diversas modalidades com que o Nova Aliança se identificou no passado, casos de atletismo, basquetebol, voleibol e futebol de salão.

Garrido Garrine, que auxiliou Augusto Matine na Selecção Nacional de Futebol, os “Mambas”, é um dos homens que está à frente dos projectos tendo como finalidade o relançamento do Nova Aliança da Maxixe, que tinha a sua mística no futebol e seus sócios.

Garrido Garrine, conselheiro no departamento de futebol, admitiu que as dificuldades são enormes para reactivar o clube, o que vai requer maior dinâmica da própria direcção e dos órgãos sociais.

Para o efeito, aguarda-se pela publicação dos estatutos no Boletim da República para proceder a convocação de uma nova assembleia para que todos aqueles que queiram ser sócios do clube adiram. Neste momento, a colectividade abriu uma conta bancária disponível a todos os sócios activos para que façam as suas contribuições e estejam a par da gestão da colectividade, como exemplo de uma gestão que se pretende transparente.

REGRESSO EM CINCO ANOS 

A vontade de trazer o Nova Aliança rapidamente à ribalta é enorme, daí que a direcção do clube equaciona reintroduzir os seniores este ano, tendo em conta que o apuramento para o Moçambola regressa para os moldes anteriores, com a abolição da Divisão de Honra. Esta situação leva Garrine a vaticinar a possibilidade de a equipa de Maxixe regressar mais cedo ao convívio dos grandes, que as previsões anteriores, em que apontava para um período de cinco anos.

Porém, reconhece que isso dependerá do volume de apoio que for conseguido, mas não de forma isolada como tem acontecido agora.

Vincou, adiante, que o fundamental é criar infra-estruturas e ter campo próprio, porque, no seu entender, é mais fácil reunir material desportivo. “Endereçamos algumas cartas ao empresariado, nomeadamente o Standard Bank e Vodacom, sendo empresas que se identificam com as nossas cores”, contou.

O Nova Aliança precisa, para dar os primeiros passos, de ter alguma sustentabilidade financeira que lhe permita estar em condições de inscrever os atletas na Associação Provincial de Futebol de Inhambane, cobrir as despesas de secretaria e assegurar o material desportivo, pagamento dos treinadores que trabalharão na formação.

Para o efeito, lançou um apelo para que todos os que pertencem ao Nova Aliança da Maxixe, desde os pais até aos respectivos filhos, se juntem de modo que Inhambane esteja representado no Moçambola.

A nossa fonte lança as culpas da queda dos clubes também à política que culminou com a sua integração às empresas. “As empresas foram encontrar tudo organizado nos clubes, mas quando faliram nem sequer devolveram o que lá estava”, lamentou, condenando de seguida a Lei de Mecenato, para quem deve estar clara sobre as contrapartidas para as empresas que apoiam o desporto, isto no que se refere aos impostos.

“As empresas devem estar seguras de que o seu financiamento traz-lhes alguns benefícios. Tudo deve ficar claro de modo que quando olham para as suas finanças vejam que demos tanto e em contrapartida conseguimos isto, de modo a sentirem-se cada vez mais motivadas para apoiar os clubes”, sublinhou.

FORTE BASE DE TALENTOS

O Nova Aliança tem a prerrogativa de ter uma base para a prospecção de talentos à sua volta. No seu redor, estão 10 Escolas do Primeiro Grau, com as quais trabalha directamente para a formação de futuros jogadores para a iniciação.

É destas escolas que surge maior parte dos atletas que integram actualmente as equipas de juniores e juvenis, com as quais participa nos campeonatos provinciais. Aliás, o Nova Aliança esteve ano passado representado nos nacionais destes escalões, tendo deste modo uma base para a formação da equipa de seniores, com a qual participará no campeonato provincial deste ano.

Segundo Garrido Garrine, é objectivo do clube prosseguir com este projecto com a promoção de campeonatos regulares envolvendo equipas representantes das respectivas escolas a partir das quais formar-se-á as Esperanças do Nova Aliança (uma equipa de juvenis).

Temos, dentro de um raio de 20 quilómetros do clube, escolas onde faremos pesquisa de talentos, que posteriormente entrarão nas fileiras do Nova Aliança. É um projecto que se faz a custo da vontade própria e o nosso objectivo é dar andamento aos talentos que forem descobertos. Há talentos na província, mas quem está para assegurar o desporto de alta-competição a nível da província não está organizado, daí que estes talentos morrem no recreativo, afirmou, referindo-se à Associação de Futebol de Inhambane.

Porém, o clube tem falta de material desportivo para tornar este movimento mais forte.

A fonte negou que o Nova Aliança da Maxixe foi, pelas características, um clube que movimentou diversas modalidades. Porém, isso deixou de ser visível porque o clube perdeu a sua estrutura, daí que haja muita coisa por fazer para reorganizar o clube, do ponto de vista de órgãos sociais.

Para relançar a sua imagem, o clube está a fazer um trabalho de marketing baseado na reintrodução de camisetas e chapéus que ostentam as cores da colectividade. A par disso, existe um grupo que está a preparar um livro sobre a história do clube, na base dos depoimentos de pessoas mais velhas que estiveram ligadas ao Nova Aliança, algumas das quais já não existem, isto para expor as origens do clube, a sua trajectória e os seus feitos.

PROJECÇÃO COMPETITIVA

O Nova Aliança cinge-se, neste momento, aos escalões de juvenis e juniores, através dos quais participou nos últimos nacionais, mas sem grande exibição. Ficou em último lugar em juniores, mas a direcção do clube considera que a sua presença na prova foi um marco importante para o aparecimento da equipa. A equipa de juvenis esteve igualmente abaixo dos lugares intermédios da prova.

A fraca prestação das equipas no nacional deve-se, segundo o nosso entrevistado, à fraca competitividade resultante de problemas organizacionais a nível da estrutura que gera a modalidade.

Não há competitividade até aos seniores, pois os respectivos campeonatos não vão para além de seis jornadas. Desde 2000 que o problema prevalece, daí que o futebol federado seja bastante fraco. Nos últimos anos, só tivemos o Ferroviário de Inhambane na II Liga, apontou Garrine.

Aquele antigo adjunto-técnico dos Mambas salientou que é por essa razão que o Nova Aliança está a privilegiar a formação para que, daqui a sensivelmente três ou quatro anos, o clube apareça completo em todos os escalões.

A introdução do Ensino Superior em Inhambane dá-nos certa vantagem, porque não teremos o problema dos atletas emigrarem para estudar noutras regiões. Queremos um funcionamento pleno dos órgãos sociais. Isso não acontece em muitos clubes, talvez o novo Regulamento do Clube da FIFA force os clubes a mudarem de comportamento, desejou.

ORIGEM DO CLUBE

O Nova Aliança foi fundado por um grupo de pescadores em 1932, em Chicuque, e jogou desde lá no recreativo, até que, com a sua evolução, começou a ser conhecido oficialmente em 1942, quando entrou no futebol federado.

Depois disso, alterou-se o argumento de que a origem do clube é de pescadores de Chicuque, quando se trocou, nos seus estatutos, o velho emblema para dotá-lo de estética. Ou seja, o barco que simboliza o clube era tipo triângulo, tendo se adoptado um outro que é utilizado pelos pescadores da Maxixe. Colocou-se nele a gaivota que simboliza o pescador.

O Nova Aliança conta com um espaço invejável aproximadamente quatro hectares de terreno - e que pode albergar um Complexo Desportivo, local onde pretende construir o campo de futebol com dimensões oficiais.

SALVADOR NHANTUMBO

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