segunda-feira, 30 de março de 2009

QUALIFICAÇÃO PARA CAN E MUNDIAL DE 2010 - Assim jogaram os moçambicanos

À SAÍDA, os nigerianos estavam visivelmente satisfeitos. Lisonjeados com o nulo, pois, reconhecem, o triunfo esteve mais próximo dos “Mambas”.

Dário Monteiro antecipa-se aos defensores nigerianos (C. Bernardo)

Para os adeptos moçambicanos, que massivamente foram ontem ao majestoso Vale do Infulene exprimir o seu carinho e estima pela nossa equipa, a sua satisfação residia fundamentalmente no seguinte: o reconhecimento de que, sim senhor, temos uma grande equipa. Uma equipa à altura dos verdadeiros colossos do futebol continental e jogadores prontos para enfrentar competições desta envergadura.

Em três etapas consecutivas, passaram pelo Estádio da Machava selecções de gabarito e nenhuma delas conseguiu ganhar. Referimo-nos ao Senegal (0-0), Costa do Marfim (1-1) e Nigéria (0-0), diante desta nova fornada de futebolistas do nosso país que vai merecendo, justamente, a admiração e vénia de todos nós.

As “Super Águias” vinham convencidas de que era só chegar a Maputo, pôr a máquina a funcionar e a vitória cair com toda a naturalidade. Enganaram-se redondamente! Para além de terem enfrentado um adversário destemido e que se assenhoreou dos acontecimentos, as suas estrelas mais cintilantes, nomeadamente Obafemi Martins, Obi Mikel, Oraze Odemwinge, Obina Nsofor, foram anuladas e confundiram-se com o desnorte da própria equipa.

Começando o jogo a uma velocidade estonteante, os “Mambas” – muitíssimo bem – cedo retiraram a capacidade atacante dos visitantes, obrigando-os a ocuparem-se também das missões defensivas. É verdade que a combinação entre Dário Monteiro e Genito não era perfeita, no entanto, a extraordinária acção de Dominguez, com entradas alucinantes, foi suficiente para os nigerianos pararem e reconhecerem de que realmente estavam perante uma grande equipa.

DESTEMIDO KAMPANGO

Se, eventualmente, alguém anda a conjecturar uma imediata substituição de Kampango da baliza dos “Mambas”, ontem, teve uma resposta adequada no seu equívoco. O guarda-redes exibiu-se perfeitamente à altura das grandes tardes que nos proporcionou naquele recinto. Destemido, foi dono e senhor de uma actuação deslumbrante, inclusive, enfrentando as “feras” cara-a-cara. Que o digam Obafemi Martins e Obinna Nwaneni, no primeiro, o mais flagrante, saindo com os punhos e, no segundo, em voo para socar o esférico.

No corredor central da defesa, Fanuel e Mano voltaram a ser iguais a si próprios. Os nigerianos tentaram – e até nalguns casos conseguiram – infiltrações, usando sobretudo da sua grande capacidade técnica, mas sempre encontraram dois homens corajosos e imbatíveis. Quando fosse necessário jogar “feio”, Fanuel lá estava para limpar a zona. Quando se aconselhava o uso da força, Mano não se poupava. Uma parelha de se lhe tirar o chapéu!

Dário Khan, à direita, travou duelos interessantes com Obafemi Martins e, contrariamente àquilo que tem sido sua característica, jogou de forma limpa e categórica. Paíto, à esquerda, teve momentos bons, com as suas habituais entradas até à linha do fundo, e outros menos reluzentes, ao se deixar abater fisicamente. Foi rendido por Campira, mas já no final da partida, numa altura em que os dois conjuntos, claramente conformados com a igualdade, mostravam-se mais comedidos.

SINFONIA DE DOMINGUEZ

A linha intermediária dos “Mambas” é, indubitavelmente, o sector mais nevrálgico. O sector onde se concentraram as principais jóias. Ligeiramente descaído para a retaguarda, Simão esteve bem a defender, mas faltou alegria na sua forma de actuar e sobretudo a certeza no passe. Tentou um papel mais activo na combinação com a frente atacante, só que não foi preciso na colocação do esférico no lugar certo.

Se os nigerianos transportarão por muito tempo este pesadelo do 0-0, de forma inapagável serão as recordações em relação àquilo que passaram com a arte de Dominguez. Maestro de uma sinfonia muitíssimo bem talhada, o menino-maravilha jogou e fez jogar; bailou, trocou os olhos aos adversários, principalmente Taiwo Taye, e esteve nos momentos mais altos da equipa.

Alternativa devido à ausência, por lesão, de Tico-Tico, Momed Hagy mostrou que, afinal, não é um elemento-alternativa. É, sim, um elemento-primário no onze moçambicano. Terá começado de certo modo retraído, mas rapidamente foi buscar o tecnicismo e as suas excelentes qualidades de distribuidor do jogo, assumindo um papel de grande relevo na ponte entre a defesa e o ataque.

Miro é sempre Miro! Incansável e um verdadeiro poço de forças. Fez muito bem o corredor esquerdo, trocando nalgumas ocasiões com Paíto. Todavia, terá exagerado nos remates, principalmente porque não preparados, acabando por não dar continuidade a jogadas que mereciam outro rumo. Foi substituído por Danito Parruque, aos 82 minutos, com o “rasta man” a não dispor de muito tempo para mostrar o seu virtuosismo, nem tão pouco de uma oportunidade igual à do golo contra Madagáscar.

ESTE DÁRIO, SIM!...

Genito é rasteirado (C. Bernardo)
Embora jogue bem do meio-campo para frente, Genito, colocado especificamente no ataque, viu as suas capacidades diminuídas, com o agravante de ter faltado o ensaio com Dário Monteiro. Apesar de tudo, procurou fazer valer-se da sua técnica para furar a retaguarda nigeriana. Teve a infelicidade de, no começo da segunda parte, se lesionar. Luís, seu substituto, tentou encaixar-se o mais cedo possível e aproveitar algumas bolas mortas para o remate fatal. Teve uma oportunidade flagrante, mas demorou na definição do pé a utilizar.

Transfigurado e uma unidade iminentemente ao serviço do colectivo, assim foi Dário Monteiro. Assumiu a responsabilidade com profissionalismo e acabou realizando uma partida de grande categoria.

Jogou e serviu os colegas, para além daquilo que é seu apanágio: estar sempre na brecha, tendo em duas ocasiões cabeceado para o golo, a primeira anulada com toda a razão e a segunda com alguma margem para dúvidas. Mérito para o facto de ter surgido a cabecear no meio de “latagões” como o “stopper” Daniel Shittu, a peça-chave da defesa nigeriana

Alexandre Zandamela

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