sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

CAN ANGOLA-2010: Fim da estrada na Tundavala!



PETER Odemwingie viu subir em flecha a sua cotação na bolsa de valores do futebol continental, e não só.

Chegou a Angola, palco da 27ª edição do Campeonato Africano das Nações, a bordo de uma Nigéria titubeante e cujo futebol, até quarta-feira, não tinha convencido rigorosamente a ninguém, a despeito da sua abundante e inquestionável nomenclatura. Após duas partidas em que praticamente passou despercebido, tal como, aliás, a própria equipa, Odemwingie acabou por oferecer às “Super Águias” uma qualificação para os quartos-de-final que, embora fosse previsível, não teve nada de deslumbrante.

A inspiração do meio-campista nigeriano, com dois tentos superiormente bem construídos e de belo efeito, juntando-se ao golo do aparecido Obafemi Martins, deitou abaixo o lindo sonho dos “Mambas”, que se despediram das terras angolanas como uma exibição repartida entre o bom e o suficiente, a pecar, no entanto, pela ausência de acutilância dos seus avançados e, claro, do primordial numa partida de futebol: os golos. Foi o fim da estrada na Tundavala, o majestoso Estádio Nacional do Lubango, onde a turma moçambicana actuou pela última vez nesta competição.

Ao contrário doutras grandes selecções africanas, nomeadamente Egipto e Costa do Marfim, que efectivamente têm estado a maravilhar tudo e todos com o seu futebol altamente competitivo, bem elaborado e convincente, a Nigéria apresenta uma cara tristonha. A sua forma de jogar não vibra. Não chama a atenção.

As suas estrelas, que dentro de cinco meses estarão no Campeonato do Mundo da África do Sul, têm passado despercebidas. Obi Mikel, que na zona nevrálgica assume o papel de maestro da equipa, procura interpretar cabalmente a missão, no entanto, os nigerianos não conseguem reluzir e as jogadas ofensivas são construídas fortuitamente, isto é, sem aquele desfiar do novelo que seria de desejar.

Conhecendo Moçambique a partir dos confrontos directos da fase de apuramento, o técnico Amodu Shuaibu quis inverter o cenário da sua declarada demissão pela Federação Nigeriana, colocando nas quatro linhas um esquadrão objectivamente de morte, com quatro homens na retaguarda, cinco na linha intermediária e apenas um à frente, mas com funções bem definidas, particularmente em relação aos do meio-campo: dois no apoio aos defesas, de forma a suster quanto possível a avalanche contrária, que preferencialmente é executada a partir dos flancos, e três na orquestração de jogadas ofensivas para alimentar o possante Yakubu.

Trata-se de uma estratégia que acabou funcionando bem, se se considerar não somente a vitória como também os desequilíbrios que as “Super Águias” conseguiram sobretudo na segunda parte, altura em que de forma vincada vieram ao de cima as diferenças de ritmo e de busca de soluções para as situações mais complicadas.

MART CONSERVADOR

Conservador por natureza, o holandês Mart Nooij é conhecido como um técnico que não gosta de arriscar. Traz de casa um determinado conjunto de atletas e mantém-se fiel a eles e aos seus princípios de jogo. Tacticamente bem elaborados, os “Mambas” são hoje uma formação que discute cara-a-cara com qualquer adversário.

Neste embate, os nigerianos procuraram fechar as unidades mais salientes da equipa, caso de Dominguez, assim como deter as cavalgadas dos laterais Campira, Genito, Paíto e Miro. Mais: submeteram os avançados num verdadeiro colete-de-forças, não possibilitando que Tico-Tico, um tanto ou quanto diminuído, e Dário Monteiro, ainda não totalmente recomposto da lesão, pudessem de facto jogar.

Resultado: se tudo era elaborado com eficiência, mesmo a partir do eixo central, através da espectacular acção de Simão, que mais uma vez teve uma magnífica colaboração com Dominguez na construção de contra-ataques, o desencanto se verificava na zona do golo, porquanto os homens da frente se mostravam bastante inferiores em relação aos defensores contrários.

Nalgumas situações, não se percebia perfeitamente se Tico-Tico e Dário Monteiro eram ambos pontas-de-lança, tal como tem sido habitual, considerando a fluidez ditado pelas entradas dos laterais, ou se era apenas Dário metido em cunha entre os centrais nigerianos, com o capitão Tico-Tico mais descaído para a intermediária.

Entretanto, a despeito destas complicações de natureza táctica – também influenciadas pela forma como os nigerianos se fechavam – a equipa conseguiu, quando pôde, realizar o jogo que lhe é característico, chegando, nalguns casos, a confundir as “Super Águias”.

Abrir brechas para fazer jogar os avançados, criar linhas de passe e desmarcações através de passes longos, tudo isto foi efectuado com a perfeição devida, razão pela qual a Nigéria se viu obrigada a concentrar mais homens à volta da grande área, defendendo à zona, pois as entradas dos “Mambas” se sucediam, tanto pelos flancos como pelo corredor central.

Só que, quando Odemwingie se decidiu por aquele remate seco, com o pé esquerdo, traindo a atenção de Kampango, no fecho do primeiro tempo, e pelo toque subtil após cruzamento primoroso de Yakubu, no início da etapa complementar, toda a beleza do futebol moçambicano foi deitado abaixo e, consequentemente, as suas esperanças de seguir em frente nesta prova continental.

Daí para frente, a equipa entrou num verdadeiro desânimo e, como o treinador também não trazia soluções do banco nem da sua imaginação, o fim da estrada, na Tundavala, foi inevitável, ficando para a história a participação de Moçambique na 27ª edição do Campeonato Africano das Nações Angola-2010 e a simpatia destes “kambas” que tanto em Benguela como no Lubango foram inexcedíveis.

ALEXANDRE ZANDAMELA, no Lubango

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