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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
CAN ANGOLA-2010: Frio e chuva a cântaros no Lubango
NA segunda-feira, à chegada ao aeroporto local, a Selecção Nacional de Futebol foi recebida por uma chuva que “todo o mundo” acreditou tratar-se da bênção dos deuses huílanos aos irmãos moçambicanos.
Até Dário Monteiro, que se lesionou precisamente no aquecimento para o primeiro desafio, frente ao Benin, dizia, convicto, alto e bom som, que lutaria contra todas as vicissitudes de forma a oferecer o seu contributo aos “Mambas” para o grandioso e decisivo embate com a Nigéria.
Só que, ontem, a água benta transformou-se em água autenticamente diluviana, em face das fortes chuvas que durante todo o dia se abateram sobre Lubango, deixando algumas partes da cidade completamente inundadas. E é neste cenário que esta tarde, no Estádio Nacional da Tundavala, a partir das 17.00 horas angolanas (18.00 em Maputo), se desenrolará este ansiosamente aguardado encontro, referente à derradeira jornada do Grupo “C” da 27ª edição do Campeonato Africano das Nações Angola-2010 e cujo vencedor carimbará o passaporte rumo aos quartos-de-final, tal como o Egipto, vencedor da série e que fecha o ciclo diante do Benin, em Benguela.
Para caracterizar um pouco o estado em que se encontra Lubango, depois de ontem ter chovido verdadeiramente a cântaros, basta olharmos para aquilo que tem sido a baixa da cidade de Maputo em situações semelhantes. Também a parte baixa da urbe, que é capital da província da Huíla, encontra-se alagada e a água a invadir alguns estabelecimentos comerciais. Mais: a amálgama é tal que a transitabilidade se tornou bastante complicada, isto porque, à semelhança de quase toda Angola, decorrem grandes e importantes obras de reconstrução do país, após longos anos de uma guerra sanguinária e devastadora.
A despeito da hospitalidade, do carinho e da simpatia dos “kambas” angolanos, a verdade manda dizer que o desencanto dos “Mambas” em relação a Lubango não pára por aqui. Às fortes chuvas junta-se um frio praticamente siberiano e daqueles em que nas orelhas até se ouve o sibilar de uma corrente gelada.
As temperaturas rondam os 16-17 graus, contrastando grandemente com os mais de 30 que até ao princípio da tarde de segunda-feira os moçambicanos viveram na acolhedora e doce Benguela, mais concretamente na cidade-satélite do Lobito, que durante cerca de 10 dias foi sede da nossa selecção.
Em face da chuva, sobretudo se ela continuasse a cair durante a noite ou então hoje mesmo, receia-se que o relvado do Estádio Nacional da Tundavala, apesar de ser novo, se apresente ensopado e bastante pesado, dificultando dessa forma a boa circulação do esférico e a movimentação dos próprios jogadores. Ontem à noite, os “Mambas” efectuaram o treino de adaptação ao piso deste majestoso complexo e as contrariedades foram visíveis. É verdade que não existem poças de água, mas não resta a menor dúvida que o estado do terreno é mais cansativo e obrigará os atletas a um esforço suplementar.
PEGAR OU… LARGAR
Recuando a cassete das nossas reminiscências e olhando para aquilo que foram os confrontos entre Moçambique e Nigéria no ano transacto, independentemente dos resultados verificados, haverá razão para atribuir favoritismo a este ou aquele conjunto?
É verdade que, tendo como fundamento a história futebolística dos dois países e o peso que cada selecção assume no contexto internacional, existe a tendência natural de se colocar as “Super Águias” numa posição vantajosa. No entanto, uma análise objectiva ao comportamento de ambos os times neste CAN Angola-2010 leva-nos à seguinte conclusão: há uma repartição equitativa de argumentos para se vaticinar o vencedor do embate, que automaticamente se qualificará para a segunda fase da prova.
Ora, tendo em atenção o carácter decisivo do jogo – será pegar ou largar, como sói dizer-se -, escusado será dizer que poderemos estar em presença de uma grande partida de futebol, viva, espectacular e extremamente emocionante, Os dois lados da trincheira possuem artistas susceptíveis de proporcionar uma tarde magnífica para os milhares de espectadores que seguramente marcarão presença no Estádio Nacional da Tundavala.
Aliás, considerando o conhecimento mútuo entre os jogadores, perspectivam-se também duelos particulares e contas a ajustar a partir dos confrontos de Maputo e de Abuja, o primeiro empatado a zero e o segundo com triunfo miraculoso dos nigerianos por uma bola sem resposta.
Em particular, Dominguez estará sob o olhar atento das “Super Águias”. As suas maravilhas nas quatro linhas, as imprevisibilidades, os dribles e a precisão dos seus passes seguramente mereceram um estudo minucioso de Amodu Shuaibu e seus pupilos, tendo se procurado um elemento à altura de travar a soberba a acção do médio-ofensivo moçambicano.
Taye Taiwo, uma das unidades de referência na retaguarda nigeriana, não guarda boas recordações de Dominguez, depois daquele banho de futebol que levou no Estádio da Machava. Por razões que desconhecemos, Taiwo não alinhou diante do Benin, mas espera-se que esta tarde faça parte da equipa, até pela magnitude do próprio desafio.
SÓ A VITÓRIA INTERESSA
Simão, a estrela mais cintilante dos “Mambas” na partida anterior, frente ao Egipto, se conseguir manter os mesmos níveis exibicionais, será uma peça extraordinariamente importante no primeiro choque que os atacantes contrários terão antes de chegar à defesa. Bom a desarmar e rápido na leitura do jogo, isto é, na distribuição do esférico, Simão poderá chamar a si a confluência dos acontecimentos, pois tem a missão de coordenar tanto com os colegas da defesa como com os da intermediária, principalmente Dominguez, nas saídas em contra-ataque.
Porque julgamos que Mart Nooij não mudará praticamente em nada a forma de jogar da selecção, as faixas laterais assumirão um papel decisivo no desequilíbrio da balança, através dessa impetuosa acção de Campira e Paíto, a partir da retaguarda; Genito e Miro, do meio-campo. Só que, neste caso, é preciso ter em atenção o seguinte: os cruzamentos aéreos para a área podem ser inúteis, dada a estatura dos nigerianos.
Por isso, para contrariar este factor, o recurso à qualidade técnica dos pés dos nossos jogadores impor-se-á, até porque, conforme se viu nos dois embates em Benguela, a defesa das “Super Águias” não é tão forte e prática como é, por exemplo, dos egípcios.
Mas porque a partida é decisiva para ambos os intervenientes – a Moçambique somente a vitória interessa, enquanto à Nigéria um simples empate serve – também é natural que seja caracterizada por nervosismo e muita ansiedade, com o bom futebol a ser arredado para o segundo plano.
Esta opção pode ser benéfica para os nigerianos, pois a ausência de golos lhes será vantajosa. Portanto, à beira de fazerem história, com a transição para os quartos-de-final do Campeonato Africano das Nações, tudo o que se espera dos “Mambas” é um empenho sem reservas, uma entrega com galhardia e um acreditar permanente, dado que ganhar às “Super Águias” está perfeitamente ao alcance dos nossos briosos rapazes.
ALEXANDRE ZANDAMELA, no Lubango
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