quarta-feira, 15 de abril de 2009

Organização dos Jogos Africanos de 2011: Mega operação de charme na eleição de Moçambique

Carlos Sousa (esq.) e Albino da Conceição
NUMA sala do Hotel “Mont Fébé, em Yaoundé, em que a velha aristocracia do desporto africano se faz presente de forma altiva e ainda guiada no anacrónico princípio de que a organização dos grandes acontecimentos somente está à altura da tríplice que aglutina árabes, francófonos e anglófonos, o surgimento de Moçambique, como candidato a sede da 10ª edição dos Jogos Africanos, em 2011, colheu de surpresa tudo e todos.

E, se cépticos existiam no local, agradavelmente surpreendidos ainda ficaram quando, numa mega operação de charme, a nossa candidatura foi apresentada, com todo o requinte e convincentemente. O resultado, claro, não podia ser outro: a entrega e plena confiança a Moçambique no êxito da organização da Olimpíada continental, um gigantesco desafio que doravante é colocado ao país e que este deverá saber corresponder devidamente.

Se não fosse a presença, na qualidade de convidado especial, do mítico e sempre atacante camaronês Roger Milla, dificilmente se poderia imaginar tratar-se de um fórum desportivo. Um sultão e octogenários dirigentes de diversos organismos disputavam o mesmo espaço de protagonismo com jovens ministros e com uma visão mais actual e globalística da realidade.

Foi nesta composição, pois, que o nosso país, através de uma delegação encabeçada pelo Vice-Ministro da Juventude e Desportos, Carlos Sousa, apresentou os seus propósitos para que os Jogos Africanos, em 2011, aportem a Pérola do Índico.

A avaliar pelos rostos estupefactos dos delegados à sessão extraordinária do Comité Executivo do Conselho Superior do Desporto em África (SCSA), reunida sexta-feira passada na capital camaronesa, muito provavelmente não se acreditava nos argumentos que Moçambique iria apresentar para convencer aquela sala, já que, na retranca, países como Egipto e Camarões aguardavam por uma possível nomeação. O Vice-Ministro Carlos Sousa, com uma apresentação em “power point”, foi suficientemente eloquente na sua explanação para arrancar incessantes aplausos e respectiva aprovação por aclamação.

Estava, desse modo e sem quaisquer reticências, oficializado o nosso país como sede daquele grandioso e prestigiante evento. O que depois se seguiu foram os discursos da praxe, o encorajamento e a confiança de que Moçambique podia organizar o certame com sucesso, tendo em conta experiências anteriores, embora em menor dimensão, como são casos dos Campeonatos Africanos de Basquetebol e, no plano político, a Cimeira da União Africana, entre outros fóruns.

E, como não podia deixar de ser, a entrega da bandeira do SCSA ao governante moçambicano, em jeito de passagem de testemunho.

ALÍVIO ZAMBIANO

Muito embora já tivesse anunciado, em devido tempo, a sua desistência de acolher os Jogos Africanos de 2011, invocando razões de ordem económica, a Zâmbia não se sentia descansada enquanto, primeiro, não houvesse o beneplácito do SCSA neste facto, sabido que é nefasto na plena regularidade do evento, que é quadrienal, e, segundo, não se encontrasse um país que estivesse disposto a acolher esta Olimpíada continental.

Quando a aprovação de Moçambique aconteceu, o júbilo dos zambianos, representados pelo respectivo Ministro dos Desportos, foi incontido, sobretudo porque, parafraseando-o, os Jogos não saíram da África Austral e foram para um país vizinho e com laços fortes e históricos consigo.

Por outro lado, os zambianos sentiram-se aliviados na proposta que havia sido avançada por alguns membros, segundo a qual devia ser fortemente penalizada pelos transtornos causados, pois desde 2005 que se havia comprometido a organizar os Jogos. Das discussões que se desenrolaram chegou-se à conclusão de que nenhuma multa devia ser aplicada à Zâmbia, até porque os estatutos nem o prevêem. No entanto, recomendou-se que deve, pelo menos, ressarcir o Secretariado-Geral do SCSA, que funciona em Yaoundé e, curiosamente, dirigida por um cidadão seu, Sonstone Kashiba, por todo o trabalho de preparação que foi levando a cabo.

APOIO ESPONTÂNEO

Para além dos zambianos, a escolha de Moçambique foi vista também como sua vitória por parte dos Ministros dos Desportos da África do Sul, Stofile, e da Guiné-Bissau, Baciro Djá, que se encontravam em representação das Zonas 6 e 2, respectivamente.

O Vice-Ministro da Juventude e Desportos de Angola, Albino da Conceição, que superiormente dirigiu o encontro, na qualidade de vice-presidente do SCSA, teceu rasgados elogios ao nosso país, afirmando acreditar que Moçambique será um exemplo na organização do evento – aliás, já foi pioneiro na apresentação da candidatura em formato “power point”, que claramente estava fora das previsões de “todo o mundo”.

Do Egipto e da Argélia, países que possuem uma grande experiência na recepção de acontecimentos desta dimensão, chegou igualmente a pronta disponibilidade na concessão de apoio multiforme, aproveitando a sua experiência e os recursos humanos que detêm.

Do próprio Secretariado-Geral do organismo supremo do desporto africano, assim como da Associação dos Comités Olímpicos de África (ACNOA) e da União das Confederações Desportivas Africanas (UCSA), Moçambique encontrou o necessário conforto para que 2011 cristalize a viragem e a universalidade dos Jogos Africanos, na senda do preconizado pelo Comité Olímpico Internacional em relação aos Jogos Olímpicos.

Doravante, caberá ao nosso país olhar e encarar os Jogos Africanos como um desafio transcendental e que tanto pode nos prestigiar, caso a organização seja um êxito, como também nos desacreditar aos olhos do continente e do mundo, se o evento fracassar.

Estes Jogos ocorrerão um ano depois do Campeonato do Mundo de Futebol e que, em relação ao qual, Moçambique tem estado envolvido numa grande preparação, tanto do ponto de vista desportivo como económico e turismo, tendo como propósito tirar vantagens do facto de se realizar na vizinha África do Sul.

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