sexta-feira, 21 de novembro de 2008

APONTAMENTO - Cadê a hospitalidade angolana!


A VI edição do torneio de futebol da Fundação Eduardo dos Santos (FESA) esteve longe de corresponder às expectativas que nos habituou e isso sufocou o reconhecimento que tem merecido dos países da região austral, que têm sido convidados para este evento, como é o caso de Moçambique. Tudo complicou-se logo à partida, quando a organização adiou a viagem das delegações de 12 para 13. A ligação para Luanda, a partir de Joanesburgo, estava prevista para as 10.30 horas da última quinta-feira, mas passou para as 15.00 horas. Tudo ficou complicado a partir desse momento.

Esse facto que complicou as comitivas, que já haviam adquirido passagens para se deslocarem mais cedo a Joanesburgo, de modo a cumprirem com as formalidades que são observadas antes do voo. As delegações acabaram chegando desnecessariamente por volta das 8.00 horas em Joanesburgo, donde só fizeram a ligação para Luanda às 16.10 horas. Fora a este cenário, é que os organizadores deste evento, só emitiram os bilhetes para a companhia área angolana – TAAG, por volta das 12.00 horas, o que contraria a informação que deram à Federação Moçambicana de Futebol (FMF), assegurando que os bilhetes já haviam sido emitidos dias antes da data da partida e que as delegações encontrariam disponíveis no Aroporto de Joanesburgo.

Estes constrangimentos concorreram para que as delegações chegassem por volta das 20.00 horas em Luanda, donde deveriam efectuar a ligação para Malange, no mesmo dia, tendo em conta que o torneio se iniciaria no dia seguinte, sexta-feira. Porém, isso acabou não acontecendo, pois os voos domésticos angolanos não fazem ligações nocturnas. Isso obrigou que as comitivas pernoitassem num dos condomínios em Luanda, para viajarem sexta-feira de manhã cedo para Malange, facto que provocou o adiamento do início do torneio para o dia seguinte, sábado.

Em Luanda, as delegações não foram recebidas por ninguém, senão os motoristas que os levaram para os condomínios, que não haviam sido antes preparados para acolher as visitas. Aliás, nem se quer havia sido preparada uma refeição para os hóspedes e isso só foi possível face a contestação dos visitantes, que questionavam a ausência da organização no local. Acabou sendo providenciado alguma coisa que não se pode considerar jantar, algo para enganar o estômago, isto já à alta noite.

Cedo, as delegações foram acordadas para se dirigirem ao Aeroporto de Luanda, para seguirem viajem para Malange. Mas, contra todas as expectativas, voltou a repetir-se o cenário de Joanesburgo. A organização não havia emitido os bilhetes e estava ausente do local, facto que inquietou mais uma vez as comitivas. Alguém da FESA apareceu lá para as 12:00 horas e para dizer que viajaríamos às 14:30 horas, chegados ao Aeroporto por volta das 7:00 horas. Para amainar os ânimos das comitivas, providenciou-se um pequeno-almoço antes da partida para Malange, num voo que durou cerca de uma hora.

ISOLADOS EM QUÉSSUA

Chegados a Malange, aguardávamos da tal cortesia que é oferecida aos visitantes, nomeadamente um lugar condigno para o alojamento e a aproximação entre as delegações convidadas. Para o espanto de todos, as delegações tiveram uma grande decepção quando aos poucos foram se apercebendo que estavam a ser deslocados para longe da cidade, onde poderiam contemplar a realidade que é a vivência duma província que está a reerguer-se depois de ter sido seriamente fustigada pela guerra. Aliás, pelo que constatámos, foi por este motivo que o patrono da FESA, o presidente Eduardo dos Santos, teria escolhido este local para acolher pela primeira vez o torneio, como forma de proporcionar um momento de convivência invulgar à juventude e a sociedade em geral daquela região do centro-norte de Angola.

Acabamos sendo desalojados da cidade para o Instituto Médio Agrário de Malange, em Quéssua, onde fomos cedidos parte de espaço onde estão internados os estudantes daquele estabelecimento de ensino. Ficámos impressionados quando soubemos que neste estabelecimento de ensino passaram figuras de destaque, como é o caso do presidente angolano. Porém, ficámos decepcionados com o tratamento que estávamos a ser submetidos. Veja só, todas as delegações foram alojadas em dormitórios, partilhando espaço comum, sem ar-condicionado e casas de banho condignas e sujeitas à febre amarela, que é uma doença muito comum naquele país da África Austral e que abunda mais nestas alturas de verão devido aos mosquitos.

Enquanto isso, a selecção angolana gozava do conforto do Hotel Palancas, no centro da capital provincial, onde esteve hospedada antes do início do torneio.

Nem as reclamações levantadas pelos chefes das respectivas delegações surtiram o efeito desejado, até que regressarmos à terra pátria.

COITADO DOS MAURICIANOS

Triste realidade esta, porque passaram os mauricianos, com quem a delegação moçambicana partilhou os momentos de aflição e desabafou na tentativa de entender por que razão os angolanos agiam daquela forma desumana, uma vez que foram eles que convidaram as selecções participantes no torneio para o evento, assumindo todas responsabilidades inerentes. Face aos constrangimentos registados desde a partida de Joanesburgo para Luanda e daqui para Malange, os mauricianos acabaram pagando caro, pois foram obrigados a pernoitarem nas cadeiras no Aeroporto de Joanesburgo, uma vez que não foram a tempo de conseguir fazer a ligação para as Maurícias na segunda-feira. A sua viagem só acabou acontecendo no dia seguinte, isto devido a desorganização dos angolanos.

Isso levou as três delegações a questionarem o por que do convite quando sabiam (os angolanos), que não estavam preparados para acolher o evento. A conclusão a que se chegou, depois de uma profunda análise da questão, é de que as pessoas encarregues pelo evento não estavam interessadas pela distinção, pelo grau de organização e brilho do evento, mas sim em dar por cumprida a missão, para satisfazer alguém que se acha dono desta nobre iniciativa e que, no seu entender, assumiu esta tarefa exemplar de contribuir com este gesto para unir a juventude da região austral e proporcionar-lhe o momento de troca de experiência. Porém, as pessoas que estiveram na organização da VI edição do torneio da FESA demonstraram que não estão interessadas em vergar para essa nobre missão, dai que se tenham distanciado das suas missões, submetendo-as a pessoas que não tinham nada a ver, de tal modo que o protocolo encarregue para tratar das delegações era simplesmente constituído por motoristas que, para além desta tarefa que lhes é peculiar, passaram a fazer tudo para atender as necessidades das delegações. Não tiveram receio de manifestar contra a triste situação por que estavam a passar, acabando por afirmar quenós estamos na mesma situação que vocês”.

Aliás, foram os “amigos motoristas” que deram o seu calor e simpatia aos convidados, partilhando consigo as dificuldades que encaravam dia-a-dia e, para o espanto das delegações visitantes, é que nenhum deles sabia dizer, quando questionado, quem estava à frente da organização do evento, a quem poderiam dirigir as devidas preocupações. Tudo terminava em reuniões técnicas, uma vez que os organizadores, ou seja, os gestores do evento estiveram longe das proximidades das delegações convidadas do princípio até ao fim. Foi uma situação bastante crítica pelas quais passaram as delegações da Suazilândia, Maurícias e Moçambique e, para o caso concreto desta última, houve motivos para se questionar que “afinal de contas onde está o sentido de irmandade que é evocada entre nós os moçambicanos e angolanos”.
  • SALVADOR NHANTUMBO

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