segunda-feira, 6 de setembro de 2010

CAN GABÃO/GUINÉ-EQUATORIAL-2012 - Até parecia que todos estavam de jejum!


TRANSFIGURADOS estes “Mambas”! Já não são os mesmos que deram tantas alegrias ao povo moçambicano em tempos muito bem recentes. Ontem, frente à Líbia, não demonstraram aquela vivacidade que lhes é característica, principalmente quando jogam em casa. Deixaram-se manietar e acabaram por pagar cara a factura: um empate a zero golo com a Líbia pode ser fatal na hora de fazer as contas finais para o apuramento à fase final do Campeonato Africano das Nações, CAN-2012, que terá lugar em simultâneo no Gabão e Guiné Equatorial.
Maputo, Segunda-Feira, 6 de Setembro de 2010:: Notícias


Depois de uma semana negra para os moçambicanos, sobretudo para os residentes de Maputo e Matola, e um pouco pelo centro do país, devido às manifestações alegadamente motivadas pela subida do custo de vida, esperava-se que os “Mambas”, pelo menos ontem, servissem de catalisador para as pazes entre os tumultuosos.

Mas o que se viu é que os “bons rapazes”, como já eram apelidados nos últimos anos não foram suficientemente inteligentes para devolverem essa alegria aos moçambicanos, alguns ainda a viverem o espectro de luto.

O que sinceramente não entendemos desta selecção é o que andou a fazer ontem nas quatro linhas. Até parecia que tinha se solidarizado com os líbios, fazendo também jejum. É caso para questionar: afinal onde estiveram com a cabeça, oh rapazes?

Quando o jogo começou, com o Estádio a registar uma boa moldura humana, tudo indicava que os “Mambas” assumiriam de imediato os cordelinhos do jogo. Mas, pelo contrário, vimos uma equipa sem vigor e muito menos vontade de chegar ao golo rapidamente. Os “Mambas” deixaram-se levar pelo jogo monótono do adversário, quando cabia a eles assumirem a pasta de chefia, porque neste tipo de competição e, principalmente em África, quem manda normalmente é o dono da casa.



Com um meio-campo discreto, que nos pareceu órfão de pai, a ressentir-se da ausência de um muninciador do jogo, e um ataque sem sequer um ponta-de-lança de raiz, os “Mambas” tentaram sobreviver na base de improvisos e da inspiração de alguns dos seus melhores artistas. Só que ontem, sinceramente, os jogadores que têm dado ar da sua graça quando a equipa não joga estiveram mesmo fora de si. Dominguez errava em tudo. Não acertava um passe em condições sequer
.

Jumisse, às vezes, esquecia-se que estava em campo. Genito, que também tem sido um estratega, muito cedo ficou diminuído fisicamente depois de um choque com um defesa que o obrigou a actuar até à sua saída aos 37 minutos da etapa complementar ligado na cabeça. Simão era o único sobrevivente, mas pelas suas características ofensivas dava mais nas vistas lá atrás do que propriamente no ataque, onde era necessário.



Lá na frente a música era a mesma. Hélder Pelembe não encontrava espaço de manobra, Tony ia a todas, mas perdia-se porque não tinha o apoio que tanto precisava. A defensiva nos pareceu trémula. Pena é que os líbios não arriscaram. Mas nas poucas vezes que foram ao ataque o fizeram com algum perigo
.

Estes “Mambas” parecem ainda ressentir-se da ausência do aposentado Tico-Tico, que durante muito tempo carregou consigo o símbolo de unidade do grupo, na qualidade de capitão. A ausência de Dário Monteiro, lesionado, foi bastante notória. Aliás, Dário Monteiro continua a ser o único ponta-de-lança de raiz, que com a sua experiência e manha consegue brigar com os defesas e abrir espaços para as entradas dos restantes colegas para as finalizações. Paíto, um lateral moderno, foi outro “faltoso” de grande relevância. Normalmente explora o seu corredor com muita naturalidade e deixa as compensações para os centrais que se desdobram quando a equipa está no ataque.

Tirando um e outro remate, como aquele de Tony, aos 16 minutos, de Miro aos 19, Jumisse, aos 20 minutos, os “Mambas” nada justificaram senão o empate até ao final dos primeiros 45 minutos. Mas diga-se que os líbios estiveram à beira de marcar, quando aos 21 minutos, Amed obrigou Kampango a uma defesa arrojada.




MART NÃO CONSEGUIU LER O "CORÃO"!

Todo o público presente no Estádio, e não só, esperava uns “Mambas” mais agressivos e venenosos na segunda parte. Mas isso só se viu no primeiro quarto de hora. Josimar, que entrara para o lugar de Hélder Pelembe, no descanso, tentou dar ar da sua graça no lado esquerdo, mas as jogadas por si iniciadas não tinham a devida continuidade por parte dos seus colegas.


Foram uns 15/20 minutos de um futebol mais adulto, com algumas jogadas com cabeça, tronco e membros. Onde apenas há um registo: falhanço incrível de Jumisse ao rematar para a defesa, por instinto, do guarda-redes líbio
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Mas os “Mambas”, incompreensivelmente, caíram na real. Ficaram inertes!

Mart Nooij também ficou cego. Não conseguiu ler o "Corão" escrito pelo brasileiro, treinador da Líbia. Baralhou-se. Olhou para o banco e não viu mais nada. Via tudo às escuras. Depois de trocar Jumisse por Mbinho cometeu uma barbaridade. Mandou Carlitos e Fanuel aquecerem. Quando tudo indicava que lançaria Carlitos para questões mais ofensivas, optou por Fanuel. E como se isso não bastasse, colocou-o no ataque. Incrível! Aqui o técnico moçambicano tem que dar a mão à palmatória.

O técnico brasileiro dos líbios apercebeu-se que estava diante de uma equipa passiva. Mandou os seus pupilos optarem por um jogo de contenção, com alguns “cai-cai” à mistura. Próprios de uma equipa que quando joga fora e com poucos argumentos para conseguir a vitória o empate é o melhor resultado.

Foi isso que aconteceu. Os “Mambas” só de si é que se podem/devem queixar. Os líbios, pelo que vimos, não são doutro mundo e nem tiveram a ajuda de Alá (Allah, a palavra árabe para Deus).

Só esperamos que este empate não seja comprometedor quando terminar este Grupo C e chegar a hora das contas finais, já que a Zâmbia, noutro encontro da abertura desta série, goleou Comores por 4-0.

A equipa de arbitragem esteve bem. Os cartões amarelos exibidos foram justos.



FICHA TÉCNICA

ÁRBITRO: Bangoura Aboubacar; auxiliado por Kaba Moussa Bintou e Sylla Sekou Yalani. Quarto árbitro: Keita Yakhouba (todos da Guiné Conacry).

MOÇAMBIQUE: Kampango; Dário Khan, Mano, Mexer e Miro; Genito (Fanuel), Simão e Jumisse (Mbinho); Dominguez, Hélder Pelembe (Josimar) e Tony.

LÍBIA: Samir Abodi; Yawis Chibani, Aly Salama, Abdul Aziz; Osama Gaity, Abdulasser, Maruan Amed, Amed sad (Husseis), Muhamed Emigrabi, Huibrahim Sale e Amed Suay.

ACÇÃO DISCIPLINAR: “amarelos” para Dário Khan e Miro, ambos de Moçambique, e Muhamed, da Líbia.

Gil Carvalho

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