segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Costa do Sol, 1-Desportivo, 1: Concerto dongaziano num “derby” encantador

DUAS grandes formações nas quatro linhas, artistas de inegável referência e um jovem árbitro com uma ascendência meteórica, eis o luxuoso cardápio que se apresentou no relvado dos “canarinhos”.

A táctica “alvi-negra” de pressionar os árbitros
Nas bancadas, um público efervescente e ávido de viver com intensidade a festa que se augurava. Na verdade, a hora e meia da contenda acabou sendo uma grande festa, um “derby” soalheiro, com lances muitíssimo bem executados e golos urdidos de forma genial, porém, com um desnecessário concerto dongaziano, protagonizado pelo árbitro do encontro.

Embora tenha realizado um trabalho sem mácula e tenha estado recto nas jogadas mais problemáticas, nomeadamente na expulsão a Mexer, Dionísio Dongaze acabou por se atabalhoar e cometer erros e conduzir o jogo para uma situação de intolerância.

A táctica “alvi-negra” de pressionar os árbitros, nos anos transactos usada pelo seu presidente através de insonsas Conferências de Imprensa, está agora centrada no seu banco técnico. No sábado, mal a partida começou, cada falta assinalada pelo juiz era imediatamente motivo de protesto por parte de Artur Semedo e seus adjuntos.

Os adeptos, no afã de apoiar a sua equipa, cegamente seguiam o gesto, quais inócuas caixas de ressonância, atingindo o clímax da sua indesejável intransigência quando, de dedo em riste e perante os agentes da lei e ordem, pediam a cabeça do árbitro.

Para nós, a pressão – repetimos, desnecessária – exercida sobre Dongaze acabou por lhes sair pela culatra, pois o juiz da partida não se deixou condescender e até exibiu o cartão vermelho directo ao habitualmente bem comportado Mexer, numa situação em que, caso não quisesse mostrar a sua autoridade ao Desportivo, contrariando assim a sua pressão, nem sequer teria usado o amarelo, dado que a falta sobre Tó ocorre alguns metros à entrada da meia-lua e o tal perigo iminente preconizado estava fora de questão. Enfim, quem semeia ventos já sabe que colherá tempestades, e a maior tempestade “alvi-negra” foi justamente a expulsão da sua jóia.

Entretanto, apesar de ter sido um desafio bastante quente, as unidades mais envolventes dos dois conjuntos estiveram longe de se assumirem como desequilibradoras.

E porquê? A ordem dada aos defesas foi clara: não permitir que joguem. É assim que Tó, Rúben, Josimar, Silvério e Mambo – este último com o agravante de se ter lesionado e obrigado a abandonar cedo as quatro linhas -, de um lado, Mayunda, Aníbal, Muandro e mais tarde o “amnistiado” Nelson, do outro, pouco espaço tinham para desbobinar o seu futebol e dessa forma criarem as situações letais que nos habituaram.

A defender, o Desportivo era mais rigoroso. Fazia-o à zona, para além de prontamente cair em cima do homem em poder do esférico, diminuindo assim a possibilidade de manobra aos elementos nucleares do adversário e retirar-lhes as linhas de passe. Já o Costa do Sol abria brechas na sua retaguarda, facto aproveitado pelos “alvi-negros”* para levar muitas jogadas de perigo à baliza de Abú. Aliás, foi na sequência desta maneira de jogar que o Desportivo chega ao golo, por intermédio de Binó, a caminho do intervalo.

REVÉS “ALVI-NEGRO”

Com uma segunda parte mais dinâmica de parte a parte, sobretudo dos “canarinhos”, a expulsão de Mexer criou dores de cabeça a Artur Semedo, obrigado a efectuar mudanças tácticas para compensar este revés. Por exemplo, para além de o destemido Zainadine Jr. ter ido para a zona central, praticamente toda a equipa recuou, ficando lá à frente somente Binó, incapaz de se libertar do colete-de-forças montado por Jonas e Kito. Resultado: o poder ofensivo “alvi-negro” decresceu na mesma proporção em que veio ao de cima o jogo atacante do Costa do Sol, com uma persistência muito grande, sem no entanto conseguir bater Marcelino.

Artur e Félix, que se juntaram a Alvarito, inegavelmente eram os melhores recursos para João Chissano traduzir em êxito o caudal ofensivo do seu time. Jogava-se com muito ardor, pois o tempo ia escasseando, as paragens se sucediam, os nervos e a ansiedade tomavam conta dos jogadores e o árbitro, com a coacção que ia sofrendo, atrapalhava-se e cometia erros que em situações normais não tinham razão de acontecer.

Mas os “canarinhos” tanto se bateram até que, aos 92 minutos, após um pontapé de canto executado por Artur, para o coração da área, Félix surgiu no local certo e no momento certo a fazer a igualdade.

Do árbitro, já dissemos que o seu trabalho foi de grande qualidade, no aspecto técnico, enquanto no disciplinar foi excessivamente zeloso, sobretudo no vermelho a Mexer. Quis mostrar ao banco do Desportivo que não cede a pressões e acabou pagando um jovem que joga de uma forma limpa e disciplinada e que, inquestionavelmente, será uma ausência de vulto nas jornadas que se seguem, dependendo da duração da pena.

FICHA DO JOGO

Árbitro: Dionísio Dongaze, coadjuvado por Agostinho Pelembe e Célio Mugabe. Quarto árbitro: Felisberto José

COSTA DO SOL – Abú; João, Jonas, Kito e Dito (Félix); Silvério, Mambo (Alvarito), Josimar (Artur) e Rúben; Marrufo e Tó

DESPORTIVO – Marcelino; Zainadine Jr., Mexer, Emídio e Secanhe (Nelson); Nelinho, Muandro, Mayunda e Tchitcho; Aníbal e Binó (Sonito)

Acção disciplinar: cartão amarelo para Tó, Marcelino, Aníbal e Binó. Vermelho directo para Mexer e João, este último por acumulação de amarelos

Golos: 0-1, Binó (39 m); 1-1, Félix (92 m).

ALEXANDRE ZANDAMELA

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