quarta-feira, 14 de julho de 2010

MUNDIAL-2010 - Um orgulho para espanhóis e africanos


APENAS 12 quilómetros separam a Espanha de África, no ponto mais próximo do Estreito de Gibraltar. Após a final do Campeonato Mundial de Futebol África do Sul-2010, o 19° da história, o novo campeão mundial e o Continente Africano uniram-se numa única festa. Foi como se uma grande onda de felicidade partisse de Bloemfontein e atravessasse toda a África para chegar a Barcelona.



Este foi o primeiro Mundial disputado em solo africano e a prova ficará na memória de todos tanto pela animação da nação anfitriã quanto pelo triunfo da selecção espanhola. O país ibérico tornou-se no oitavo campeão mundial de futebol da história, graças ao golo de Andrés Iniesta, aos 116 minutos do prolongamento, na final contra a Holanda.

Após 31 dias de futebol que culminaram com o triunfo da Espanha no Estádio Soccer City, em Joanesburgo, foram cerradas novamente as cortinas do maior espectáculo desportivo do planeta. Foram 64 jogos que contaram com 599 jogadores de 32 selecções, que marcaram um total de 145 golos. No final, o troféu foi para as mãos dos comandados pelo técnico Vicente del Bosque, mas o sucesso da África do Sul, na organização do campeonato, também foi imenso.

A chamada “Nação Arco-Íris” deu um “show” de alegria e capacidade e representou uma nova esperança para todo o continente. O facto de que a África do Sul foi a primeira selecção anfitriã a ser eliminada na fase de grupos não afectou em nada o entusiasmo dos adeptos nem diminuiu o volume do ininterrupto som das vuvuzelas.

O África do Sul-2010 foi um campeonato com muitas surpresas. Até mesmo os espanhóis foram surpreendidos, ao serem derrotados pela Suíça por 1-0, na estreia. Depois disso, no entanto, recuperaram e venceram as seis partidas restantes, quatro delas por apenas 1-0. Nenhuma selecção havia vencido o Mundial marcando menos golos do que os oito da Espanha, mas o futebol dos ibéricos impressionou mesmo assim, com o comando de Xavi e Iniesta no meio-campo, os golos do artilheiro David Villa e a segurança de Iker Casillas. O guarda-redes defendeu cara-a-cara duas bolas de Arjen Robben na final e ganhou merecidamente a “Luva de Ouro” da Adidas.

Enquanto isso, a Holanda não terá só recordações de alegria da África do Sul, já que a equipa voltou para casa frustrada, ao perder a terceira final da sua história, depois das derrotas em 1974 e 1978. O seleccionado de Bert van Marwijk ganhou os seis jogos para chegar à final com um estilo de jogo bem mais pragmático do que o normal, considerando os padrões do futebol holandês. No entanto, o técnico alinhou uma equipa relativamente ofensiva, com um 4-2-3-1 muito em voga actualmente, e contou com um dos artilheiros da prova, Wesley Sneijder, que balançou as redes cinco vezes em sete partidas.







DESTAQUES INDIVIDUAIS




A Alemanha de Joachim Löw impressionou o mundo com um futebol vistoso e contra-ataques mortais. Foi assim que a “Nationalelf” jogou para massacrar a Inglaterra e a Argentina. No entanto, os alemães não mostraram a mesma qualidade contra a Espanha e acabaram eliminados numa reedição da final do Euro-2008. A selecção germânica terminou com a medalha de bronze e com o melhor ataque da competição, tendo marcado 16 golos. Além disso, o avançado Thomas Müller levou para casa o prémio de Melhor Jogador Jovem Hyundai e a “Bota de Ouro” Adidas pelos seus cinco golos e três assistências. Villa, Sneijder e Diego Forlán fizeram o mesmo número de tentos que Müller, mas foram superados nas assistências. Além disso, o alemão balançou as redes em todos os remates que acertou na direcção da baliza.

O outro grande destaque individual foi Forlán, que ganhou a “Bola de Ouro” Adidas, após conduzir a surpreendente “Celeste” à quarta posição. Comandado por Óscar Tabárez, o Uruguai voltou a disputar as meias-finais pela primeira vez em 40 anos, graças à combinação perfeita entre a tradicional garra charrua e o talento dos atacantes Forlán, que foi possivelmente o jogador que se deu melhor com a “Jabulani”, e Diego Suárez.

Até aos quartos-de-final, a América do Sul ameaçava roubar os holofotes. Pela primeira vez na história, todas as selecções da CONMEBOL passaram da fase de grupos, quatro delas na primeira posição. O Chile mostrou um futebol aberto e ofensivo para acabar a sua longa espera de 48 anos por uma vitória no Mundial e ficar com o segundo posto do grupo, atrás apenas da Espanha.

Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai ficaram todas entre as oito melhores – um feito inédito para os paraguaios. Os argentinos estavam a fazer um torneio perfeito até que os sonhos de Diego Maradona chegaram ao fim com uma vexatória goleada sofrida diante da Alemanha. O Brasil também enterrou as suas esperanças ao fazer um péssimo segundo tempo contra a Holanda. Foi o segundo Mundial consecutivo em que a selecção “canarinha”caiu nos quartos-de-final.

O dia em que a “Laranja Mecânica” conseguiu a reviravolta sobre a formação de Carlos Dunga foi um dos mais emocionantes do campeonato, encerrado com o duelo espectacular entre Uruguai e Gana, no Soccer City. As “Estrelas Negras” ficaram a um penalte de distância de se tornarem no primeiro país africano a atingir as meias-finais. Asamoah Gyan desperdiçou a oportunidade que teve no último minuto do prolongamento, ao mandar a bola para o travessão. O atacante ganês ainda converteu a sua cobrança na disputa das grandes penalidades, mas o Uruguai acabou ficando com a vaga.








DECEPÇÕES E ALEGRIAS




A campanha do Gana, que teve vitórias sobre Sérvia e Estados Unidos, foi o principal destaque entre os africanos. Foi grande a decepção quando os donos da casa, treinados pelo brasileiro Carlos Alberto Parreira, foram eliminados da competição, apesar da vitória sobre a França. A África do Sul fez o mesmo número de pontos que o México, mas foi superada no saldo de golos.

No entanto, os “Bafana Bafana” saíram de cabeça erguida e fizeram o primeiro e um dos mais belos golos da prova, através de Siphiwe Tshabalala, que mandou uma linda bola para o ângulo contra o México. A Costa do Marfim também caiu fora devido ao saldo de golos, enquanto os outros representantes do continente, Argélia, Camarões e Nigéria, ficaram na última posição dos seus grupos.

Muitas selecções protagonizaram momentos dramáticos. Uma das principais foi a dos Estados Unidos, que recuperou de uma desvantagem de dois golos contra a Eslovénia e, na última jornada, conseguir a qualificação diante da Argélia, graças a um golo de Landon Donovan nos últimos segundos. A vitória por 3-2 da Eslováquia sobre a Itália foi outro momento decisivo no desfecho da fase de grupos. O atacante Robert Vittek marcou duas vezes para eliminar os campeões de 2006. O seleccionado comandado por Vladimir Weiss chegou aos oitavos-de-final logo na sua primeira participação no Mundial desde a independência do país.

Várias outras equipas também mereceram aplausos. Com jogadores jovens e talentosos, este foi o quinto campeonato em que o México chegou aos oitavos-de-final. Japão e Coreia do Sul passaram da fase de grupos pela primeira vez a jogar fora de casa. Os azarões da Nova Zelândia não disputavam o Mundial desde 1982 e foram a única selecção a deixar a África do Sul sem derrota. Grécia e Eslovénia conseguiram as suas primeiras vitórias no Mundial. Outra personagem muito bem-sucedida neste campeonato foi o polvo Paul, que impressionou o planeta ao acertar todos os seus oito palpites.


As maiores decepções do África do Sul-2010 vieram da Europa. Itália e França, as duas finalistas de 2006, ficaram na última posição dos seus grupos e não venceram uma partida sequer. Já a Inglaterra chegou aos oitavos com um futebol muito abaixo das expectativas e foi eliminada com uma massacrante goleada de 4-1 frente à Alemanha.

Por fim, embora o título tenha ficado com uma selecção do Velho Continente – pela primeira vez fora da Europa –, os africanos também têm muito o que comemorar. O Mundial foi coroado com a aparição de Nelson Mandela no Soccer City, antes da final. O presidente da FIFA, Joseph Blatter, deu uma declaração significativa sobre o homem que desempenhou um papel tão fundamental na criação da África do Sul moderna. “Este Campeonato do Mundo teve uma força especial e está ligada à história de liberdade e à história de um homem”.

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