segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Qualificação para CAN e Mundial de 2010: Moçambique, 1-Botswana,0 - Electrizante e sofrido!

MISSÃO cumprida! Cumprida na íntegra. Este é o resumo da história do jogo de sábado em Gaberone, inserido na última ronda do Grupo 7 de qualificação simultânea para o CAN e Mundial de 2010.

Este público merece a qualificação dos “Mambas”
Os “Mambas” foram eficientes e eficazes naquilo que perseguiam entanto que objectivo nesta deslocação ao difícil terreno do adversário. A vitória por 1-0, mas que poderia ter sido por muitos mais golos, a avaliar pelas oportunidades criadas, acabou sendo justa.


Os “Mambas” chegaram a Gaberone sabendo que ninguém ainda tinha ganho nesta campanha ao Botswana em casa. Mesmo o colosso Costa do Marfim foi lá empatar, por isso a pressão era tão enorme que obrigava todos a unirem esforços para quebrar este jejum. E foi mesmo quebrado!

Objectivos e práticos, os “Mambas” lançaram-se ao terreno das operações debaixo de um intenso e abrasador calor. Ganharam logo de início a simpatia dos moçambicanos, que enchiam por completo uma das bancadas, a central sombra. Tomaram de assalto o meio-terreno contrário e, actuando em bloco, com alguns flanqueamentos, chegaram à baliza dos tswanas com alguma naturalidade.

O GOLO MADRUGADOR

Os “Mambas” já nos habituaram a este estilo de jogo. Na Tanzania, na campanha anterior, há quem não visse o golo. Desta vez também há quem não chegou a assistir àquele momento ímpar. Estavam decorridos seis minutos. Dominguez fugiu à marcação dos defesas e junto à linha de fundo, pela direita, cruzou rasteiro para o enfiamento da área, do lado oposto. Genito, de primeira, encheu o pé. A bola violentamente subiu e só foi travada pelas redes. Os moçambicanos “pularam” de satisfação, enquanto os locais levavam as mãos à cabeça. Era o princípio de uma festa duradoira…

Os tswanas encetaram a reviravolta. Fizeram circular a bola a toda largura do campo, aproveitando-se da habilidade daquele nº 7, Pontsho Moloi, que tanta dor de cabeça dava aos nossos defesas, principalmente Whisky, que estava escalado para aquele flanco.

Os “Mambas” continuavam a pautar por um jogo colectivo. Defendendo à zona e atacando em bloco. Por isso, ninguém me pode condenar se disser que o aparente domínio dos tswanas, sobretudo na posse de bola, foi estratégia da equipa técnica moçambicana, porque as melhores oportunidades de golo, essas, sem dúvidas, pertenceram aos “Mambas”.

O calor que se fazia sentir sábado em Gaberone não permitia aos moçambicanos muitas aventuras. Era preciso, em algum momento, mas estrategicamente, entregar o jogo ao adversário para o manietar e no momento oportuno matar a “Zebra” de uma vez por todas.

Aliás, Tico-Tico e Dário serviam de tabela para os remates à meia-distância. Por três vezes viu-se que o esquema era esse. Primeiro, aos 16 minutos, Genito, em cunha, rematou forte e rasteiro. O guarda-redes nem sequer se mexeu, mas a bola milagrosamente saiu a escassos milímetros do poste direito da baliza de Modiri.

Depois foi Simão, aos 21 minutos, que depois de receber um atraso inteligente de Tico-Tico, estoirou, mas o tiro também saiu torto. E por fim, Dário, aos 30 minutos, serviu atrasado a Tico-Tico, que desferiu um portentoso remate, só que a bola na trajectória embateu num defesa e foi para canto.

Este foi o momento mais alto dos “Mambas”, que “bombardearam” a baliza do seguro Modiri. O pouco público local apercebeu-se que em campo havia duas equipas com pretensões diferentes. Por um lado, os moçambicanos objectivos e decididos e, por outro, os tswanas a jogar mais para o público.

O intervalo chegou. E até aqui concluiu-se que a derrota de Maputo não passava de simples acidente de percurso e que o ajuste de contas era um facto a consumar.

No reatamento, o Botswana apareceu mais agressivo. Stanley Tshosane, técnico da equipa, mandou flanquear o jogo. Colocou as suas pedras mais rápidas nos flancos. Aí os “Mambas” perderam momentaneamente a cabeça. Foram quase 10 minutos de sofrimento. Pontsho (nº 7), pela esquerda, Joel (nº 17), pela direita, e Dipsy, pelo meio, construíam um magnífico triângulo. A defensiva moçambicana teve que se desdobrar e ir mesmo à racha para manter ordem.

Foram várias as vezes que Mano e Fanuel se impuseram com determinação. Whisky não o podia fazer porque já tinha visto o amarelo. Miro recuava para o apoio. Dominguez deambulava, mas a bola não chegava com perfeição para os dribles estonteantes a que nos habituou.

Aos poucos os “Mambas” iam se saindo bem. E num desses lances a bola foi atrasada para o guarda-redes Modiri. Dominguez, rápido, foi à pressão.

O “keeper” tswana, na tentativa de sacudir, acabou perdendo o controlo. O esférico tabelou em Dominguez e ressaltou para a base do poste. Infelizmente não entrou. O mesmo Dominguez fez a protecção e num abrir e fechar de olhos rodopiou e cruzou paralelo à linha de golo. Tico-Tico foi apanhado de surpresa e falhou a emenda. Foi uma jogada que deixou o estádio em suspensão.

Na jogada seguinte, Dário Monteiro desembaraçou-se de um defesa e como autêntica flecha foi ao alcance da bola e com o guarda-redes ao seu encontro, permitiu a intervenção deste no momento do desvio. Foi mais um lance que deixou claro que os “Mambas” estavam endiabrados.

Depois seguiu-se a um momento que nem dá para recordar! O Botswana virou os canos contra a baliza de Marcelino. Sofreu-se a bem sofrer. O malabarismo das “Zebras” foi sufocante.

Todos gritavam: tira a bola daí! Mas ela voltava para aquele tecnicista nº 7, que partia a espinha dos nossos defesas. E numa dessas insistências,os tswanas chegaram a reclamar um hipotético penalte, alegadamente porque Mano teria jogado a bola com a mão. Mas o árbitro, próximo do lance, deixou a jogada prosseguir, o que pressupõe que o lance foi limpo, apesar dos protestos.

Contudo, os “Mambas” teriam acabado com todo sofrimento aos 37 minutos, quando Dário, do lado direito, junto à linha de fundo, cruzou atrasado para Miro. Só que este, no lugar de atirar de primeira, galgou alguns metros e perdeu o ângulo, acabando por levar o esférico à malha lateral.

Era período crucial. As equipas técnicas já tinham feito algumas mexidas no xadrez das duas equipas. Pelo lado dos “Mambas” já estava em campo Carlitos e Danito Parruque, que se encaixaram muito bem no jogo, apesar de ser um momento de incertezas.

Há quem terá reclamado a saída de Dário Monteiro, mas que quanto a mim o ponta-de-lança moçambicano foi bastante preponderante, pois ía à briga com os defesas e prendia-os na sua zona. Pena é que o sistema do jogo nessa altura não permitia que tivesse uma muleta.

No final do jogo a festa foi toda à “Mamba”, com os presentes a questionarem se Moçambique estava apurado para a fase seguinte ou não. Questão que ninguém conseguiu responder, porque as contas eram tão complicadas que se tinha que esperar até à conclusão dos jogos dos restantes grupos. Apenas se sabia que a Costa do Marfim havia ganho a Madagáscar por 3-0.

O trio de arbitragem, sem ter influenciado no resultado final, pecou por não permitir a Lei da Vantagem. E Moçambique, nesse aspecto, acabou sendo prejudicado.

ÁRBITRO: Ahmed Tidiane, auxiliado por Mamdou Faililon e Samba El Hadji (todos do Senegal).

MOÇAMBIQUE: Marcelino; Whisky, Fanuel, Mano, Miro, Dominguez, Simão, Hagy (Carlitos), Genito (Nelsinho), Tico-Tico (Danito Parruque) e Dário Monteiro.

BOTSWANA: Modiri Marumo; Tshepo Motlhabankwe, Mompati Thuma, Mogogi Gabonamong, Gobonyeone Selefa, Nelson Gabolwelwe, Boitumelo Mafoko (Dirang Moloi), Joel Mogorosi, Dipsy Selolwane, Jerome Ramathakwane (Malepa Bolelang). e Ponsho Moloi.

GIL CARVALHO

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